segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

FELIZ NAVIDAD!



O REI MENINO

O estandarte do Rei não é de púrpura e brocado, é um lírio flutuante sobre o caos, onde ambições se digladiam e ódios se estraçalham.O Rei vem cumprir o anúncio de Isaías: vem para evangelizar os brutos, consolar os que choram, exaltar os cobertos de cinza, desentranhar o sentido exato da paz, magnificar a justiça.

Entre Belém e Judá e Wall Street, no torvelinho de negações e equívocos, a vergasta de luz deixa atônitos os fariseus. Cegos distinguem o sinal, surdos captam a melodia de anjos-cantadores, mudos descobrem o movimento da palavra.

O Rei sem manto e sem jóias, nu como folha de erva, distribui riquezas não tituladas. Oferece a transparência da alma liberta de cuidados vis.

As coisas já não são as antigas coisas e perecível beleza o homem não é mais cativo de sua sombra.
A limitação dos seres foi vencida Por uma alegria não censurada, graça de reinventar a Terra, antes castigo e exílio, hoje flecha em direção infinita.

O Rei, criança, permanecerá criança mesmo sob vestes trágicas porque assim o vimos e queremos, assim nos curvamos diante do seu berço tecido de palha, vento e ar.

Seu sangrento destino prefixado não diluia luminosidade desta cena. O menino, apenas um menino, acima das filosofias, da cibernética e dos dólares, sustenta o peso do mundo na palma ingênua das mãos.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pegadas



Ainda que passe o tempo
Nada consegue apagar
as doces lembranças de um amor que imprimiu
pegadas indeléveis na nossa alma...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

(Horas mortas...)



E então vem o medo...
o coração bate descompassado,
Estão te levando por um corredor iluminado e frio.
Retalhos de alguns filmes...risos, lágrimas...Tudo vem à tona.
Tudo é incógnito,
você sabe que de repente poderás não retornar,
não voltar a ver a luz do sol, o colorido do olhar daqueles que você ama...
Entorpecida.
Vence pouco a pouco a sonolência,
E já não és mais tú que estás ali...um corpo inerte a mercê de estranhos.
Não sentes nada, mas sabes que te estão a mutilar a navalha...
A inconsciência à dor é o lenitivo que nos encoraja a atravessar o escuro..!